Antes que o café esfrie

 

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teço versos

ao frio

antes que meu café esfrie

na xícara abandonada

sobre o parapeito

lá fora

abandono ilegal

sob alegações

de pretextos poéticos


alinhavo

despretensioso

histórias do vento

que ocupa

o silêncio da rua

porque é noite


categórico

preciso

é o prazer

reclamado

de gemidos

que subvertem

a mudez noturna

vindos do quarto

guardado 

pelo arcanjo de papel


e a voz da ventania

que visageia as palmeiras

que sacode o babaçu

meruocante

e que chacoalha

minha mente 

poeticamente

desfavorecida

leva 

todo mistério

dos amantes

que madrugam

furtivamente

que se entregam

que se lambem

e se comem 


um verso torto

cai sobre a pedra tosca

e se desloca

indo de ladeira abaixo

da minha rua 

enquanto uma rima

vem por cima

e abafa miados

dos gatos em cio

porque agora é madrugada

dezembrina madrugada

ainda sem coaxos

ainda sem respingos

sem névoa


meu olhar acompanha

as sombras

ziguezagueante

dos quirópteros

e minha mente

se abandona

à memória fresca

do desvirginar

do mancebo

que há 15 minutos

fora atascado

no meu falo

com tudo

devassado

contudo

vitorioso


retomo meu olhar

ao parapeito

e me reencontro

fecho a porta

fecho os signos

fecho o ponto

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