Eletrosférico


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no quadrado do meu quarto
apaguei as luzes
dilatei
as pupilas
para me ver
e me apreciar
em estado natural
puro e primeiro
mas minha matéria
se desintegrou
ao meu primeiro juízo
estético
e me tornei partícula
desorganizada
o pouco
virou quase nada

abro a porta
saio para buscar
o resto de mim
que ficou lá fora
por não temer
a virose
que subtrai
olfato
paladar
e badalações

na minha rua
todo movimento
é sinal
do ontem que se repete

caminhar como qualquer mortal
não é a mesma coisa
de suspender o mundo
sobre os ombros
é tornar-se quantidade
estatística
gráfico
seta que sobe
legenda vermelha
ou preta

na escuridão
entre a qual caminho
vozes que habitam as calçadas
me chamam
mas o véu da neblina
me cobre em sólido
e surdez 

motores das máquinas
me desequilibram
como gritos e rugidos
dos demônios
do fim dos tempos
minha calma está em risco
codifico meus pensamentos
em símbolos matemáticos
fragmentando
meu corpo em luzes
e volto pra casa
deixando o mundo à deriva
das galáxias famintas

a madrugada contaminada
esfriou os desejos
agora habito o todo
e deixei de ser
acidentalmente
o único

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