Sob o assoalho



Foto de Marcelo Jaboo no endereço https://www.pexels.com/pt-br/procurar/naked%20man/



Tenho medo da solidão física... essa que ninguém te chama nem te fala nem te abraça nem mesmo te aborrece. Porque a solidão dos pensamentos, esta já me existe, ela se deita e se acorda comigo. Esta criou uma realidade paralela e me incluiu na sua rotina. 

Quando escrevo meus poemas ela sai de perto e vai rir de mim na sala e fica cantarolando no seu deboche para me atrapalhar. Ela diz que ninguém vai entender meus textos e se eu quiser ser lido que eu procure usar o lugar-comum dos temas, o devocionismo, os memes, o smart poser, a polêmica e o punk. Quando resolvo fazer crônicas, ela diz que "textão" ninguém o lerá. Ela quer que eu esqueça que o mundo me cabe e me convida todo dia a morar sob o assoalho para me juntar aos ácaros e fungos para me transformar em esquecimento. 

Mas haverá sempre alguém mais curioso e que sairá da fila dos comuns para procurar outras veredas, quem sabe um dia me ache no deslize dos feeds, no click das tags, ou mesmo em páginas impressas guardadas nas estantes. A leitura e a curiosidade refazem nações, descobrem verdades e redescobrem ideias. Um dia alguém resolve limpar o assoalho e retirar o mofo e o pó. Esta solidão é cruel, mas ela é vencível, porque não lhe importa tanto o tempo. À solidão física, importam os segundos de toda falta de abraço.

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