Segredo

Fiz este poema quando eu tinha 21 anos, não lembro mais por qual propósito eu o criei. As ideias contidas nele nem todas me são claras até hoje, o que torna o título mais adequado ainda. Eu recitei este poema em um festival de arte em Fortaleza promovido pelo Curso de Filosofia (Seminário da Prainha, 1993 ou 1994) e consegui o troféu de primeiro lugar. Ele me fez mais sentido quando comecei os estudos de Filosofia um ano depois de tê-lo escrito, foi como se eu tivesse tido uma antecipação do que eu estudaria.





A noite gerou o ser.
E não se sabe se a luz já existia
ou se foi gerada com o ser
Sei. A luz tomou posse.
E no silencio somou-se o tempo e a cada momento
segredou-se a graça.
Gratuitamente.
Tudo se fundiu no fecundo.
Profundo é o saber que cede e ascende do físico.

Assim como se soubéssemos saber o que somos, sonhamos.

Nada foi revelado nos passos do sábio
que se formou
sem nós.
Sem a nossa podridão de idéias.
Sem mesmo a soberba cética
que nos faz, a cada instante, separar do universo.
Universalmente sabemos que o aconchego dos corpos é sadio,
principalmente
no ventre do ser
que se pronominou de Ela.
O que nos torna ignorantes
é o essencial que se esconde no cosmos, no divino.
Meninos ingênuos, nós,
que nos atrevemos a ser cientes, pois é assim que a solidão avassala.
E nos escombros podemos ainda ver
que está longe a sombra do que não se alcança,
do que sentimos quando nos curvamos.

Ah, como gostaria de gritar no silêncio
e repetir a cena da passagem do corpo no corpo,
das mãos que me arrancaram,
das luzes que me impuseram aos olhos,
do ar que me invadiu as narinas e me estalou os pulmões.

Ah, como gostaria de gritar na noite,
na noite em que me preparavam sequiosos.
Mas não um grito de dor. Um grito, só...
assim como se soubesse saber o que sou,
sonhando.



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