azul-ladainha




Foto de Kiko Alves

este azul que se instala no céu 
sem deuses do vento
nem força da chuva 
este imenso vão de barro e tijolo 
em que se anuncia a fé 
a fé das mãos 
dos pés em procissão 
das ladainhas e jaculatórias 
esta enorme parede das lamentações 
de senhoras conceições 
dos dedos em ave-marias 
dos lábios que cantam aos senhores 
que se escravizam nos seus améns 
que se apagam em seus perdões 

oh azul dos olhos cegos que se cerram de escuridão 
oh azul ozônio que desintegra meu mito de mim 
oh azul dégradé da minha solidão poética 
azul do silêncio do meu set 
do meu mundo real demais 
do meu grito em off 
da minha desolação 
azul torturante em credos e benditos 
azul da minha parede sem grafites 
que descolora meu corpo arrebatado em detalhes 
fragmentado em olhares 
desintegrados em desejos 
desencontrados de mim









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