esperei meu rei na avenida
não fui sambar
todos passavam
todos sorriam
mas não passava meu rei
fumei
bebi
gargalhei
fiz cena
me despi
me insinuei
mas não passava meu rei
fiz reza
beijei santo
joguei búzios
mas não chegava meu rei
talvez estivesse a caminho
sobre um corcel negro voador
um cortejo de servos nus
alados
excitados
bajulando-o
provocando-o
arcanjos cantando
em tecnogregoriano
bailarinos despidos
esvoaçantes
dançando
acasalando-se
talvez meu rei viesse
além das serras
do nordeste
ou centro-oeste
um sorriso
para perturbar o sol
um olhar
para desmaiar a lua
meu rei talvez venha
riste
vitorioso
sob os trovões de Ogum
sob a flecha de Oxóssi
sobre as correntezas de Oxum
corro louca na avenida
brado seu nome no ar
acendo velas pra Exu
um ipadê pra o encontrar
faço versos nos bares
arribo saia no coco
faço entrançados de palhas
solto meus cachos no vento
alguém viu meu rei por aí
diz a ele que estou aqui
estou presa em várias linhas
em qualquer batuque eu desço
pito
rodo
bebo
danço
meu transe é só pra ver meu rei chegar
minhas lágrimas
Oxumaré as transformou
porque a avenida está vazia
todo mundo já passou
só o meu rei que não chegou
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