Bem-vindo, Emanuel!



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Bem-vindo, Emanuel!

(Auto de Natal)
Cláudio de Oliveira

PERSONAGENS:
ANA
ATENDENTE 1
ATENDENTE 2
CRIANÇA 1
CRIANÇA 2
GABRIEL
JOSÉ
MARIA
SIMEÃO
ATO 1 - CENA 1

[O cenário é um interior de uma casa simples de brasileiro da classe social baixa.]

GABRIEL: Ali, naquela casa pequenina e simples, nascerá mais um menino, mais um brasileiro. Ele nascerá pobre, porque seus pais, José e Maria são pobres. José trabalha numa fábrica que fica na cidade vizinha e Maria é dona-de-casa. Naquela casa miúda daquela periferia, há uma família que está feliz, feliz porque nascerá uma criança, o menino Emanuel.
[Gabriel cantarola uma canção popular e caminha até chegar à porta da casa de José e de Maria.]

GABRIEL: (Batendo palmas.) José! Maria!... posso entrar?
JOSÉ: (Falando com alguém pelo celular. Interrompe para falar com Gabriel.) É o Gabriel? Pode entrar, estamos na cozinha! (Continua ao celular.)
GABRIEL: Oi, bom dia! Tudo bem, José! Como você está, Maria?
MARIA: Estou bem, Gabriel. Parece que nosso Emanuel já quer nascer...
GABRIEL: Oh, Maria, que coisa boa! Mas já pediram a ambulância?
MARIA: José tá ligando pra lá...
JOSÉ: (Falando com alguém ao celular) E ele vai demorar? (pausa) É..  mas aí, acho que não podemos ficar esperando... Sim, está no dia mesmo, ainda ontem ela esteve na Santa Casa e o médico confirmou entre hoje e amanhã que ela ia parir. (pausa)Não, não tenho dinheiro para táxi... (pausa) É o jeito, senhora, vou ver com algum vizinho quem pode nos ajudar... Tá, pois anote aí...992214324... é o meu mesmo. Tá. Obrigado (desliga o celular).
MARIA: Eles vêm?
JOSÉ: Não, Maria... acho que não vai dar certo...
GABRIEL: Como assim, José?
JOSÉ: A ambulância teve problemas com os pneus... o motorista levou pra oficina e não sabe que hora vai voltar...
GABRIEL: José, Maria... ajeitem as coisas, as roupas... eu levo vocês até à maternidade.
MARIA: Mas em qual carro, Gabriel?
GABRIEL: Vou pedir o de meu pai... Vamos, ele empresta, é caso urgente.
JOSÉ: Então vou só trocar de roupa rapidinho...
GABRIEL: Com a farda do trabalho ainda, José?...
JOSÉ: Pois é, cheguei agora há pouco da fábrica, mas vou só me molhar e troco de roupa em dois minutos.
GABRIEL: Vou ali na casa do meu pai pegar o carro. Você vai ficar bem, Maria?
MARIA: Vou sim, Gabriel, obrigado. 
[Maria sozinha começa a cantarolar uma canção popular]



ATO 1 - CENA 2

JOSÉ: Prontinho. Gabriel já foi pegar o carro?
MARIA: Sim, deve tá chegando. 
JOSÉ: E você, como tá?
MARIA: Tô bem...  Preocupada só com a bolsa se caso ela romper antes de a gente chegar na maternidade.
JOSÉ: Não, isso não vai acontecer... Cadê Dona Ana?
MARIA: Tá fazendo as orações dela... Mãe!
ANA: (Sem aparecer em cena ainda) Já vou minha filha!
JOSÉ: Ela vai com a gente?
MARIA: Eu pedi pra ela ficar... Ela já cuidou de mim todos esses dias... E eu confio em você nesta hora importante das nossas vidas.
JOSÉ: Claro que sim, amor. A gravidez é nossa, estamos nós dois grávidos (Abraça Maria e cantarola uma canção sobre a liberdade humana)
MARIA: Isso foi magnífico, José!

[Chega Gabriel.]

GABRIEL: (Balançando o chaveiro com a chave do carro) Cheguei, pessoal! Vamos?
MARIA: Mãe! Estamos indo!
JOSÉ: Gabriel, quando sair minha quinzena, eu lhe dou o dinheiro da gasolina. Eu sei que o litro dela tá muito caro.
GABRIEL: Que é isso, José, não se preocupe, homem, tudo é providenciado.

[Entra Ana, mãe de Maria, com uma bolsa.]

ANA: Aqui, minha filha, já preparei tudo do que vai precisar.
GABRIEL: Olá, Dona Ana, como vai a senhora?
ANA: Gabriel, meu filho, tão bom revê-lo neste momento de tanta graça! (Abraçando Gabriel). Eu ouvia lá do quarto, sei que vai levar minha filha para a Santa Casa, muito obrigado por tudo. Deus acompanhe vocês!
GABRIEL: Amém.
ANA: José, tome conta de Maria. (Abraça José e depois abraça Maria.) Ela é a minha mais bela flor e será desta flor que nascerá meu neto Emanuel. Vão, vão... se apressem, a noite será mais curta, pois o dia foi bem mais longo hoje.

[Gabriel, José e Maria saem de cena. Ana fica em casa e cantorola uma canção antiga. Fim de cena.]




ATO 2 - CENA ÚNICA

[O cenário é um interior de um hospital.]

ATENDENTE 1: (Dirigindo-se a José) Senhor, me desculpe, mas não temos mais leito. Vou encaminhar vocês para outra maternidade. (Ligando de celular) Oi, aqui é Isabel, escutem, vocês podem receber uma parturiente... certo... ahan... certo... tudo bem.
JOSÉ: Vai dar certo, senhora?
ATENDENTE 1: Sim, sim... Estão na ambulância do município de vocês?
GABRIEL: Não, moça, a ambulância deu problema viemos em carro particular...
ATENDENTE 1: Ah, mas tudo bem, vou providenciar uma pra vocês... Por aqui, me acompanhem...
[Maria começa a passar mal. Os atores saem de cena. Som de ambulância. Fim de cena.]





ATO 3 - CENA ÚNICA

[O cenário é um interior de outro hospital. Maria já está sofrendo de dores pré-parto. Uma enfermeira encaminha Maria bem apressada para o interior do cenário, ambas saindo de cena. José e Gabriel ficam com uma atendente.]

ATENDENTE 2: Boa noite. Gostaria de preencher a ficha da paciente...
JOSÉ: Pois não, eu sou o pai.
ATENDENTE 2: O nome da sua esposa, por favor...
JOSÉ: Maria de Nazaré da Silva Brasil

[Enquanto José está preenchendo a ficha de sua esposa, ouve-se um choro de recém-nascido. José e Gabriel se enchem de emoção. A atendente permite José ir aonde Maria foi levada. Gabriel dá um sinal a José dizendo que vai para casa. Gabriel abraça a atendente e, depois, sai de cena. Fim de cena.]





ATO 4 - CENA ÚNICA

[O cenário é em frente a casa de Maria e de José]

GABRIEL: (Aos gritos.) Dona Ana! Dona Ana! O menino nasceu! Nasceu o filho de Maria e de José!
ANA: (Saindo à porta.) Bendito seja Deus no mais alto Céu! (Abre a porta e abraça Gabriel.) Deu tudo certo, Gabriel? Ela passa bem?
GABRIEL: Sim, Dona Ana. Ela passa bem sim. José está bem também. Todos nós ficaremos bem.
ANA: Graças a Deus. E obrigado a você, meu anjo bom. Deus seja louvado. Glória a Deus nos Céus.
GABRIEL: E que fiquemos todo em paz aqui na Terra.

[Vários vizinhos e transeuntes vão se chegando e perguntando sobre o acontecimento. E vão abraçando Gabriel, Dona Ana e vão se abraçando todos. Som de ambulância. Uma criança do meio daquela gente avista José e Maria com o filho no braço – que vêm de longe, pela plateia]

CRIANÇA 1: Vejam! Lá vêm eles! Ali, abaixo do morro!
GABRIEL: Vejam todos, é José e Maria com seu filhinho!
CRIANÇA 2: Ande, sobe, dona Maria, vem apresentar seu filho para nós!

[Gabriel pega um violão de um vizinho e começa a tocar e a cantar uma música popular. José e Maria com o menino se aproximam chegando até o palco. Todos vão se aproximando do casal e cumprimentam e dão parabéns e se admiram com o bebê. Um dos vizinhos pega uma cadeira de dentro de sua casa e traz para Maria se sentar. Dona Ana vem com uma bandeja com bolo, sucos e café oferecendo aos que estão ali. Todos vão aos poucos se acomodando em torno de Maria com o recém-nascido: Gabriel e as crianças ficam num plano mais alto do palco; José, Maria e Ana ocupam lugar central e os demais ficam em segundo plano. Simeão, um vizinho idoso, se aproxima do casal.]

SIMEÃO: Posso fazer uma pergunta a vocês?
MARIA: Claro, Seu Simeão, pode fazer.
SIMEÃO: A criança já tem nome? É menino ou menina? 
JOSÉ: É menino... e ele se chamará Emanuel.
SIMEÃO: (Aproximando-se do bebê) Posso segurar o neném? (Tomando a criança ao colo) Emanuel... Como vai, Emanuel? Acho que você será o último recém-nascido que vejo na vida. Ver uma criança assim na minha velhice, já no fim da minha vida é ver a luz da vida brilhar novamente. Agora posso até descansar em paz! (Devolve a criança a Maria.) Parabéns, Maria, parabéns, José! Parabéns, Ana, pelo netinho. A vizinhança também está de parabéns. Isso é motivo de festa. É motivo de glória. Emanuel... Emanuel... bem-vindo, Emanuel!


[Fim do espetáculo.]










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