O peixinho e a minhoca (Adaptação da obra “As aventuras do Peixinho Coró” de Hildebrando Carvalho)

No início de 2013 adaptei para a linguagem teatral (um esquete) a obra "As aventuras do Peixinho Coró" do meu ex-colega de trabalho, na época, Hildebrando Carvalho. Trata-se de um dos livros da coleção lançada pelo PAIC, nele podemos nos envolver com a personagem Coró, peixe que virou um mito na cidade de Camocim, no Ceará: "quem come da cabeça de um coró nunca mais deixa Camocim". 





Personagens:
Coró
Minhoca
Pescador

[A peça é encenada em dois planos : no 1.º plano ficam Coró e Minhoca, no 2.º fica o Pescador; o cenário do 1.º plano é o interior de um rio, com destaque de uma bota cenográfica gigante; no 2.º plano o cenário é uma barca. Dentro da barca está o Pescador deitado - que entrou lá antes de abrir as cortinas do palco – ele se senta quando as cortinas se abrem e começa a se espreguiçar]

PESCADOR: Ahh... estou com um palpite que o rio não vai estar pra peixe hoje! Pelo jeito acho que vou levar só uns camarãozinhos e pronto... [armando o anzol e se preparando para jogar a linha na água] mas minha vontade mesmo é de pegar um coró... depois de cozido, vou chupar a cabeça do danado... só pra ver se é verdade mesmo... onde já se viu?... chupar a cabeça de um peixe e depois querer ir embora da cidade e não poder... pois apareça, danado, pra ver se eu não como até as guelras!

[Um enorme anzol cenográfico surge com a Minhoca sentada nele e cantarolando. Entra em cena também Coró, primeiro explorando todo o cenário até chegar a Minhoca.]

CORÓ: [Cantarolando até ver a Minhoca. Espanta-se.] Nossa! Que coisinha esquisita.... mas, hummm! Parece muito apetitosa...

MINHOCA: [Um pouco antipática]Pare, peixinho, vá com calma...
CORÓ: Olha! Meu lanchinho fala! ... desculpe-me lanchinho falante mas vou ter que saciar minha fome fora do comum com você.
MINHOCA: [Com um falso desespero] Não faça isso, peixinho, por favor, não faça isso!
CORÓ: [Indiferente aos apelos da Minhoca] Nhame, nhame, nhame...
MINHOCA: [Com antipatia e desespero. Dando tapinhas em Coró.]Não faça isso, peixinho, não faça isso... eu lhe conto um segredo bem interessante!
CORÓ: Um segredo?... Interessante?....
MINHOCA: Interessantíssimo!... Mas só conto se você prometer que não vai me devorar...
CORÓ: Nhame, nhame, nhame... está bem. Porém... vou logo avisando que se o segredo não for interessante... se não for um segredo assim... fora do comum aí... Nhame, nhame, nhame...
MINHOCA: [Levantando a mão para cumprimentar] Combinado, meu chapa, toca aqui! [Sem jeito] Anh... é... peixinho, qual é mesmo seu nome?
CORÓ: Coró, mas pode me chamar só de Corozinho... E o seu?
MINHOCA: Você não conhece a minha espécie?
CORÓ: Claro, mas nunca tinha visto uma tão falante assim... e pare de me enrolar que minha fome fora do comum está cada vez mais aumentando... Nhame, nhame, nhame, nhame...
MINHOCA: Ah, então tá... Minhoca!.. Minhoca é meu nome...
CORÓ: E aí, vai contar o segredo ou tá difícil?
MINHOCA: O segredo?... Ah, claro, o segredo, Corozinho... não tinha um nome mais bonito, não... Coró?
CORÓ: [Ameaçando] Nhame, nhame, nhame, nhame!...
MINHOCA: Tudo bem, tudo bem.... apressadinho. [Com suspense] Você sabia ... que se você me comer, você também será comido?....
CORÓ: Eu? Comido?
MINHOCA: Sim, comido... [Imitando o Coró] nhame, nhame, nhame...
CORÓ: [Risada cínica] Eu, um coró? O mito camocinense? [Risadas] ... o Pinto Martins das águas? O mais conhecido peixe de todo o rio Coreaú... ser devorado?... [Mais risadas]
MINHOCA: O escamadinho tá se achando... menos, viu, meu filho... [Suspirando] Peixes! São todos iguais... convencidos!...
CORÓ: [Aliviando-se da risada] Ai, essa foi boa... mas é você, Minhoca, que vai me pegar e depois me devorar?... Nhame, nhame, nhame, nhame!...
MINHOCA: Claro que não sou eu, estrela do Projac... Estou aqui nesta situação, porque exatamente, neste momento, um humano quer pegar você!
CORÓ: Um humano?
MINHOCA: Sim, um humano!
CORÓ: Desses que jogam lixo nos rios, tipo: garrafas, sacolas, sapatos, veneno...
MINHOCA: [Completando ] Cocô...
CORÓ: [Botando a mão no nariz] Não fui eu!
MINHOCA: E, para pegar você, eu estou no meio desta jogada!
CORÓ: Traidora! Acabamos de ficar amigos... eu sabia... não confia no sexo feminino... disse um tio meu lá do Acaraú.
MINHOCA: Calma, eu sou tão vítima quanto você. O lance é o seguinte... os humanos sabem que vocês, peixes, morrem pela boca [Com desdenho] Nhame, nhame, nhame.... e que adoram minhocas, tipo eu! Colocam a gente aqui bem enroladinha neste... anzol...
CORÓ: [Amedrontado] Anzol? Isto é um anzol?
MINHOCA: É.. eu sei não parece muito, é porque eu andei fazendo umas reformas, sabe como é... se é pra morrer, vou pelo menos morrer com pose... já dizia uma tia minha sobralense...
CORÓ: [Amedrontado] Já estou ficando com uns calafrios.... parece que estou é no Tianguá...
MINHOCA: Dramático!... Pois bem, Corozinho, por isso, se você vier me devorar, você será fisgado e puxado lá pra cima para ser devorado pelos humanos... Nhame, nhame, nhame... Segredo dito, acordo cumprido!
CORÓ: Tudo bem, não vou mais devorar você...
MINHOCA: Olha, aí, tá ficando inteligente...
CORÓ: Quer saber? Vou tirar você desta também e dar uma lição nele [Apontando para o pescador]
MINHOCA: Menino... Você só pode ser aluno do PAIC

[Coró retira Minhoca do anzol e procura ali por perto uma bota cenográfica gigante. Põe no anzol a bota. Minhoca dá uma balançada na linha do anzol e se afastam rapidamente. O pescador puxa a linha e fica irritado. Coró e Minhoca se abraçam. Música final.]

FIM







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