O grito




 (Poema feito para meu amigo Bruce. Em 2011 quando passava dentro de um carro, vi-o lá fora caminhando na Avenida John Sanford, em Sobral. Gritei o nome dele. Ele olhou, mas não conseguiu ver quem gritou o seu nome.)




Aquele grito na avenida era meu

porque os automóveis se resguardavam no silêncio noturno
porque extraterrestres  visitavam a Sobral desvairada que dormia
porque Bruce  vagava em jeans e obstinação
porque os passos daquele vulto arrepiavam postos incendiários
porque a quarta engravidava-se de quinta,
uma quinta pernóstica e lasciva às vésperas de uma sodoma carnabralesca...


Aquele grito era meu

um grito de fúria dos homens que amam para contradizerem a si mesmos
um grito extirpado das entranhas que foram caladas pela hipocrisia
um grito de desassossego
um grito de orgasmo espasmado na virilha da sobralidade prostituída
um jorro de notas desarranjadas em desacordes elétricos
um djavur
um agouro
uma premonição.


O grito era meu,
os passos eram de Bruce...


porque a distância ameaça, mas não desune
aquilo que tem que ser, apesar do maldito silêncio dos hipócritas, será!

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