Bloco dos Sujos, uma Sobral de Canalha

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                                       Régis Canalha, um dos fundadores do Bloco dos Sujos na cidade de Sobral.



A cada ano a gente se encontra nas ruas do centro sobralense... você talvez de menina, ela talvez de menino, seu pai talvez de vovó, sua vó talvez de bebê. "É o bloco dos sujos passando, menino, vem ver a marmotice". Não é marmotice é a beleza da vida fantasiada da fantasia. É o encontro de gerações que se traveste da verdade do que realmente somos: uma gente alegre, latente de felicidade! A canalhice régia, soberana, sobraleirense toma conta da Pessoa, da Hora, da São João, da Boulevard, deixando o avesso sem aversão. As marchinhas lembram o início, celebrando os fundadores, e a plástica dos brincantes é o melhor do desfile . É espaço para protestos, beijos e outros lances. Ninguém é ninguém, é o teatro dos seres que poderiam ser. Uma peruca torta, um batom borrado, um vestido retrô ou a mais chic das drag... todos se mominam, se saturninam, se brasileirizam num espaço tão curto de tempo. É a festa do nós. A festa de gravatas em pescoços delicados, de chifrinhos luminosos, de langerie provocante, de falsos bigodes, mas da verdadeira alegria. Só os indelicados se horrorizam, só os mal resolvidos condenam o desfile. A força do carnaval será sempre maior que a condenação e o maniqueismo dos puritanos. Porque é uma força humana gerada pela coletividade dos que querem promover o prazer, sim é passageiro, e o que não é passageiro nesta vida?... Viver o carnaval é experimentar o jardim das delícias dos primeiros adãos, das primeiras evas. Desfilar nas ruas é pulverizar a energia purificadora nos ambientes contaminados pelo massacre explorador do consumismo capitalista. Colorir-se é pintar o mundo como a natureza o concebeu. Fantasiar-se é buscar a origem dos ancestrais dos povos que evocavam o absoluto para que assim os tornasse a sê-lo como tal. Dançar, pular, cantar é a corporeização da alegria tão bem conceituada pelas crianças. E em cada espaço de ano, lá vamos nós sermos o porvir, adiantar a transcendentalidade humana, estar-se no estar-se-á, festejar o grito da antecipada vitória! E em cada lugar do país, os blocos saem travestidos de virgens, de donzelas, de sujos... seja em Olinda, seja no Rio ou numa boulevard em Sobral, onde sobrejaz um pomposo arco para monumentar o desfile dos canalhas filhos de um Momo que hoje rege cosmicamente no absoluto, no além.

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