Carlos, o grito ouvido


 Um depoimento ao meu amigo Carlos Rodrigues. Carlos faz parte do grupo de artistas do século XX, nos anos 80, que iniciou uma nova fase do teatro modernista na cidade de Sobral e no Ceará (foi representante da FESTA - Federação Estadual de Teatro Amador) Foi meu diretor de teatro e fizemos um trabalho juntos (nos anos 2000 a 2005) com jovens de periferia unindo educação e arte cênica na Cia. Caiçara, em Sobral, no Ceará. Carlos é de Reriutaba, hoje mora em Sobral. É professor de escola pública como eu.




Você é o grito poético para além das águas reriús, além dos tumultos rogenianos, 
gilsonianos, negros e gutemberguéricos.

Você é o grito do morro de Benedita
donde brilhou uma estrela escarlarte,
morro escalado por um carlos alado
mas calado pela hipocrisia
sorrateira, sobradeira, sobraleira, sem eira nem beira...

Você é o grito de boal numa boa
vociferado em tablados emblemados
sem problema sem dilema
sem ema, sem arco, sem cotovelo...

Você é o grito que decide
classid em acaraús marginais,
em ti, em tias
rosas, fonsecas,
luísas, luzias
homens, deuses, anjos... imagimários!

Você é o grito de uma cega
parideira bem alto
que cala
personas, pessoas, partidos, pederastas, perfeitos, prefeitos...bem feito!

Você é o grito escutado desde o pau da moça
ao penhasco do delta meruocano...
o grito de um antigo arariús reinventado em blues meio bossa-nova e rock in roll
em ecos de uma romana milagreira
e mãe das luas misteriosas
acenando
para uma princesa em decadência.

Carlos, você é o grito
que todos ouviram no teatro
e nas ágoras de agora.

Você é o grito que cala
e quem cala, consente.

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