Autóctone






Se sou fragmento
eu não sei de qual estrela fui gerado
mas estou cheio de brasis
e um escarlate coração americano.
Meu manto é azul
e minha derme é preta
como a Senhora Aparecida.
Meu berço é o mar, as serras
e a caatinga
e o meu choro é o lamento dos heróis
indígenas e africanos.
Talvez eu seja uma gota
de chuva cáustica
ou uma faísca de uma explosão
de 100 milhões de megatons.
Talvez seja descendente de cruzamento
interplanetar, mas
o que me importa é que sou filho
da historia da América.
Meu sangue é quente
e me abrigo em tupiks
nos gelados invernos.
Rezo para os totens
dos incas, dos maias e das nações
indígenas brasileiras.

Encontro-me quase sozinho
num turbilhão de maldades
de uma era capitalista
mas ainda beijo os rostos
dos camaradas marxistas.

E quando essa guerra acabar
verei fuzilada a multidão de tiranos
sobre o túmulo de Bolívar.
Despido, pintarei meu corpo
de amarelo, verde, azul e branco
e a noite sob os relâmpagos
dançarei nas praias de Pernambuco
feito Iansã confundida com sereia,
e ao amanhecer
serei o lobo guará brilhando
ao sol nos campos de Paiquerê.

Comentários

Postar um comentário