Crônica de Páscoa Cearense



     Desejo a você uma Páscoa sem chocolates, porque essas iguarias são muito caras. Porque o cacau não tem sentido de lembrança para nós cearenses, talvez tenha para a minha amiga Vagna que é meio baiana, afinal ela "tem um requebrado pro lado, minha Nossa Senhora, ninguém sabe o que é".

     Acho que um bom milho assado ou cozido traz uma lembrança da nossa meninice e dos nossos pés descalços na terra molhada de chuva. Um baião-de-dois com feijão maduro traz também uma lembrança dos nossos pais ou vizinhos que iam de jumento ou de bicicleta buscar feijão no roçado pra meninada desbuiar. O problema era só a roçara.

      Mas aí, chegava o estio... as águas iam embora das grotas e das biqueiras e, todo ano, ( quando não havia a seca) repetia-se este ciclo como até hoje se repete. Assim é também a Páscoa: um ciclo tão humano que ficou divino, uma passagem de um povo tão sofrida que virou festa, um doar-se tão humilde que se tornou crístico.

     Cada vez que as chuvas chegam, já sabemos que vamos provar de novas delícias, frutos de nossa terra. E a cada ano vamos amadurecendo como o feijão ou o milho, crescendo, nos transformando, uma ruga ali, uma dorzinha nas costas... mas também tem sempre uma novidade: um novo filho, um novo neto, uma nova presidenta, um cargo novo, um novo piso salarial, um título... fora os tantos novos sorrisos! Porque Páscoa é renovação da vida! É uma lembrança de vitórias! É um grão que se desdobra em canjica, pamonhas, cuscuz e festa!

     Meu abraço renovado e sem chocolates!


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