Meu Deus, quanta coisa interessante já se escreveu, quão criativo o homem já demonstrou ser. As peças, as poesias, os épicos, os contos, as crônicas...uma enorme literatura, independente de classificações e dos gostos de quem a lê. Independentemente do estilo pessoal ou de época, há uma vasta produção da humanidade que nos apresentou os mais lindos sonhos e mensagens. Através de mentes tão geniais integramos ao nosso mundo real histórias e personagens que até duvidamos se foram mesmas fictícias, resultado da imaginação de um ser humano. Às vezes sinto o cheiro da embarcação de Odisseu e roço meus pêlos aos pêlos do braço de Beatriz, assustada, ao ouvir o grito das almas de Dante. Subo discretamente até à janela de Julieta Capuleto, olhando sempre para baixo, preocupado com a chegada repentina de um aceito intruso. Escondido em moinhos dou risadas abafadas diante da braveza ilógica de um cavaleiro esquelético ao lado de um escudeiro gordo de nome Sancho. Calo-me covardemente diante da pergunta existencialista de um príncipe dinamaquês e consigo acompanhar o fio de sangue que atravessou a rua e chegou até a cozinha onde Úrsula partia 36 ovos. Leio apavorado, ao lado de Guilhermine, a última carta de seu amigo e mergulho desesperado no mar brasileiro à procura de Moema numa tentativa de ressuscitá-la. Entristeço-me com a tristeza da irmã do índio Caubi e me alegro, dançando, ao bambolear rítmico de uma baiana, moradora do cortiço de João Romão. E entre tantos enredos procuro meu personagem para melhor me representar... seria talvez um simples homem, americano, leitor comum, uma pessoa comum... se não fosse tão incomum esta sensibilidade.
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