Foto de Magda Valentin; Modelo da foto: Gilmar Oliveira |
do vale
sobe um mormaço
das coisas não ditas
ofertadas
pelos quatro ventos
servidas
em cântaros translúcidos
talvez um sinal dos velhos pajés do
sertão
talvez a brisa das terras vermelhas
talvez odores de audácia
de um tempo deslizante
nas correntes do Coreaú
e ali
no alto da montanha
impávido
diante do ocaso
um homem
limpa com mãos firmes
a tela nublada do que há de vir
encarar o caos
é se deixar puxar
pelo punho esquerdo
cujo bracelete
marca a inconstância
das lanças
que ferem
impiedosamente
o existir
mas a sua direita sustenta
o cálice ofertado por Dionísio
como um cessar
dos sofismas
de uma era hipócrita
guarnecida de imbecis
e do nonsense
perante a tarde
talhada
de solilóquios
o homem da montanha
ergue a taça
para libar o néctar dionisíaco
mas a risada de Chronos
reclama logo
sua atenção
acolitando o montanhês
três moiras
vêm lhe falar
“segue o rito”
sugere a do conviver
“não se cale”
implora a dos signos
“bebe, pois não sabemos
qual o melhor... viver ou morrer”
desafia a do logos
e seguem
em gargalhadas
as belas moiras
fabricando
tecendo
cortando o fio da vida
mas antes do sol se encurvar
o grande homem
estende
as duas peças ao alto
como Cerne Abbas e seu tacape
Marre Man e
sua woomera
o homem longo de Wilmington
o gigante do Atacama
o colosso do Talhada
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