Fazendo Cena

O texto abaixo foi encenado pela Cia. Celeuma de Teatro, grupo que eu dirigi de 2006 a 2011. Fez parte do Festival de Esquetes Teatrais (SESC), relizado no palco do Teatro São João, na cidade de Sobral, em março de 2008. A peça foi escolhida como o melhor esquete teatral (deu empate, então o júri deu dois primeiros lugares, ao nosso esquete e a outro, que não lembro mais o nome.)







     FAZENDO CENA
      (Esquete teatral)

Cláudio de Oliveira

1.ª CENA
[Música agitada. Atores entram em cena. Antonio e Maria entram dançando numa rave e trazem copos de bebidas na mão. Congelam a cena. Entra a atriz narradora.]

Atriz narradora: Primeira cena...Parece que tudo vai dar certo no início. A festa parece ótima. Era um amigo de sua amiga...

Antonio: O meu é Antonio e o seu?
Maria:    Maria...

[Os dois se cumprimentam, dançam juntos, bebem juntos e se beijam. Se olham e congelam a cena]
Atriz narradora: Era lindo.Trabalhava não...mas tinha feito sua ficha na fábrica que ia abrir. Meus pais gostaram dele... meu irmão não gostou não. Mas eu gostei... gostei dos pais dele também. Agora eu me lembro bem da mãe dele quando me disse: “Minha filha, ele só é muito é ciumento...”

[O cenário agora é de uma sala de estar.]
Antonio: (Desconfiado) Mas que amigas são essas?...
Maria:  As meninas da escola... a Mônica, a Milene...
[A cena é congelada.]

2.ª CENA


Atriz narradora: Segunda cena...Então chega a vez das proibições. O dedo dele estará sempre na frente do seu nariz e dizendo sempre...
Antonio: Não e não.
Maria:  Mas...
Antonio: Não é não, fuleirage!
[A cena é congelada.]

Atriz narradora Pois é... chegou o tempo de chamar você de fuleiragem, rapariga e de outros títulos abaixo da nossa nobreza feminina. E nessa baixeza não há lugar mais para a razão.
Maria: (Carinhosa) Meu filho, mas por quê?
Antonio: (Exaltado) Porque não...! [Sai de cena.]





3.ª CENA

Atriz narradora: Nesta terceira cena da sua vida, você procura contar o seu drama para alguém...

[Maria se levanta do sofá atendendo ao celular.]

Maria: (Aflita) Eu não vou não Mônica... Ahn?... mulher tu sabe por quê..., mas eu não consigo... o Antônio é louco, Mônica, eu sei o que ele é capaz de fazer...

[Antonio chega, toma o celular da mão de Maria e o joga no sofá. Segura fortemente os braços de Maria. Congela a cena.]

Atriz narradora: Uma besteira! Besteira sua porque se preocupa com o fim que ele pode dar na vida dele.

Antonio: (Irado.) Eu vou me matar se tu me deixar...
[Congela a cena.]

Atriz narradora: Besteira sua porque não sabe ainda da próxima cena...

4. ª CENA

Antonio: Mas antes de eu me matar, eu te mato primeiro...
[Congela a cena.]

Atriz narradora: Quarta cena...Mas isso não pode estar acontecendo comigo... parece cena de novela ou de teatro... Não...ali sou eu! De frente para a ameaça de morte! De costas para minha família, meus estudos, meu emprego, meus amigos...

5.ª CENA

Atriz narradora: Quinta cena...Às vezes, o sonho parece que volta e você consegue até desabafar...
[Antonio está deitado no sofá com a cabeça no colo de Maria.]

Maria: Porra, Antonio, eu deixei até minhas amizades por você... quase que eu desisti de estudar...
Atriz narradora: Mas a você foi reservado muito pouco... é hora de voltar para a realidade. É hora de acordar!
Maria: Só não saí do emprego porque...
Antonio: Vai começar, porra! Tu só quer tá é na porrada!
[Levanta-se exaltado e sai de cena..]

Atriz narradora: Foi isso mesmo que você ouviu: porrada. Isso faz parte da 3ª cena que você não havia contado pra ninguém... [anunciando] Terceira cena de novo!


3. ª CENA (de novo)

[Maria se levanta do sofá atendendo ao celular.]

Maria: Eu não vou não, Mônica... Ahn?... mulher tu sabe por que... mas eu não consigo...
o Antonio é louco, Mônica eu sei o que ele é capaz de fazer...

[Antonio chega, toma o celular da mão de Maria e o joga no sofá. Segura fortemente os braços de Maria. Congela a cena.]


Atriz narradora: Uma besteira! Besteira sua porque se preocupou com o fim que ele pode dar na vida dele.

Antonio: (Irado.) Eu vou me matar se tu me deixar...
[Congela a cena.]

Atriz narradora: Besteira sua porque não sabia que sua vida já podia terminar na 4ª cena.

Antonio: Mas antes de eu me matar, eu te mato primeiro...
[Congela a cena.]

Atriz narradora: Isso estava acontecendo com você. Não era cena de novela nem de teatro... Não...ali era eu mesma! De frente para a morte! De costas para minha família, meus estudos, meu emprego, meus amigos... De costas para minha vida. [Sai de cena passando pela plateia enquanto Maria e João, atrás, ficam encenando a 4.ª cena.]


4. ª CENA (de novo)
                    
             
[Música agitada. Antonio bate violentamente em Maria. Puxa o revólver e a mata.]


Comentários

  1. Emocionado pela batida da lembrança de vários ensaios, de várias conversas, da paixão, da amizade, do afeto , da parceria. Nunca será excluído ou extraído das minhas lembranças, o tempo pode passar , o tempo voa. Mais nunca apagará! Nunca. Sou eu, aquele magrelo dentuço e cabeludo e amigo. Sempre. Tudo mudou. Tempo passou. Amizade continuará aqui. Grande Claudio. Irmão.

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